terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Para o epitáfio da mulher vencida


 

A mulher prática venceu!
Em preto e branco,
guiada pelo relógio de pulso,
de salto,
de bolsa de couro pendendo do antebraço,
apressada logo de manhã para ir trabalhar.

É essa mulher que avisava,
há algum tempo,
que estava a caminho,
que viria para vencer,
e venceu a mulher que eu tinha.

Foi essa mulher prática que entrou
daquela vez fatídica,
batendo a porta da frente,
louca por um banho
para esticar as pernas
e reclamar do dia cinza.

Foi ela que quebrou os porta-retratos
da sala.

Que preferiu dormir
a fazer vigília pelas estrelas.

Foi ela que venceu tudo.
Ela sem ritmo, sem sentido, sem brilho
Venceu a mulher de música,
luar e sentimento,
que Vinícius me deu.

Foi essa mulher prática,
foi ela que não me atendeu ao telefone
Naquele dia.
Naquele dia eu queria mandar flores.

Mas a minha mulher,
aquela que foi vencida,
já não estava lá para recebê-las.

O buquê voltou para sempre
e hoje eu o ofereço ao pé deste epitáfio...


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