domingo, 1 de março de 2015

Angústia de Orfeu



 
Eis o Orfeu que desceu aos infernos,
mas não pode trazer sua Eurídice pela mão.
O amor foi-lhe tirado
como o golpe de um soco
Faltará o ar pelo resto da vida.

Os objetos de Eurídice ainda ocupam
todos os espaços da choupana.
Roupas, brincos, lenços e perfumes.

Tocará a lira mais dolorida
que os campos já ouviram.
Não haverá folha verde que não mingue
à voz embargada do poeta perdido.

Andará agora como bússola sem norte,
cujo ponteiro se perdeu
dentro do próprio eixo.
E vagará, simplesmente.

Porque não há mais caminho,
não há mais direção,
não há mais lugar,
não há mais ele próprio.



 

  


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