sexta-feira, 27 de abril de 2012

a EsCaDa


Menino abandonado numa beira de escada
Chora de fome e de frio

Sobe e
          desce,
                  sobe e
                           desce...

E ninguém se compadece        
Sua mãe, não conhece. Seu pai, também não.
Cadê seus irmãos? Não tem!

Sobe e
          desce,
                  sobe e
                           desce...

E agora, moleque (fosse Drummond, diria: E agora, José?)

- Ninguém me enxerga...

Olha São Francisco! Veja Santa Cecília naquele pedestal!
Olha para ali... olha para acolá...
Mas ninguém olha o menino a agonizar...

Sobe e
          desce,
                  sobe e
                           desce...

Menino abandonado numa beira de escada
Morreu de fome e de frio.

Subiu e
           desceu,
                     subiu e
                               desceu...



Nem o vigário nem ninguém o percebeu...

6 comentários:

  1. Muito bom! De uma grande maturidade poética!
    O elemento visual, o humor de certa forma irônico, tudo em perfeita adequação ao conteúdo.

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  2. Gosto de coisas circulares, que não se perdem no tempo (e, como consequencia nem na memoria) e de coisas pertinentes, que insistem em afirmar com propriedade o que dizem.
    Gostei muito desse poema!

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  3. Obg, Thais e Rebeca.
    Fico felicíssimo pelos comentários!

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  4. Fico sem palavras para expressar a qualidade do poema. Fora que você brinca com as formas de escrever não ficando uma coisa tao monotoma, fazendo com que o leitor entre dentro do poema e interaja com ele. Gostei muito.

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    1. Obg, Hygor. É isto o que pretendo: que o leitor sinta-se próximo e identificado com o que eu escrevo. Abs!

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